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10 de agosto de 2009

Essa droga de vaidade!



Não sou vaidoso, não sou por falta de tempo, de disposição e de pratica, ainda que eu tente, me parece que não nasci para o negocio, e sempre tenho a impressão que tudo que faço nesse sentindo não dá certo! Não vou dizer que já tentei de tudo porque seria mentira, eu nem tentei tanto assim, mas o pouco que fiz me mostrou a dureza que é melhorar o que muitas vezes não tem jeito.
Sempre culpei minha natural falta de tato com os esportes, como sendo o fator principal para minha quase genética predisposição ao sedentarismo. mas mesmo assim tive algumas tentativas frustradas e por isso mesmo que posso afirmar com propriedade que esse negocio de ser vaidoso é muito complicado.

No fundo eu invejo qualquer pessoa que tenha um pouquinho de vaidade, não estou querendo dizer aqui que queria ser metrosexual, aquilo pra mim é frescura, mas não custa nada buscar melhorar um pouquinho o visual e nesse quesito deixo muito a desejar!

Ainda me lembro da primeira vez que pisei em uma academia buscando ficar com aquela aparência de calendário de bombeiros, até hoje não sei o que deu em mim para fazer isso, mas só sei que acordei um dia e decidi que iria praticar musculação e boxe ( é isso ai, tudo junto, já que é pra fazer que seja assim) me matriculei, comprei aquelas luvinhas ridículas que fica metade dos dedos pra fora, arrumei uma camiseta que lembrava, pelo menos na minha cabeça, uma atividade esportiva ( queria estar inserido, quando pisasse na academia), tênis e lá fui eu para meu primeiro dia, cheguei fazendo estilo de quem fazia aquilo todos os dias, fingi até que vim correndo, sabe? Só de entrar ali já me sentia forte, primeira coisa que fiz foi procurar o professor, um tal de Pedrão ( pois é, com esse nome também fiquei com medo), pergunto dali, pergunto daqui, e pronto, aquela minha imagem de rato de academia foi por água abaixo. O professor na verdade não devia nada a uma Scania, com exceção do peso ( a Scania é mais leve), aquele cara tinha de peito o que um trem tem de comprimento, sua primeira atitude foi me medir me pesar e provar não apenas a ele mas a todos que estavam ali que além de gordo eu nunca havia pisado naquele solo sagrado do culto ao corpo.

Ficou decidido que faria primeiro trinta minutos de bicicleta, e mais trinta pegando peso e depois minha aula de boxe. Lá fui eu, subi na bicicleta e comecei a pedalar, nos primeiros dez minutos tudo foi bacana e já até havia me esquecido de toda aquela humilhação do inicio , quando comecei a ficar assado, tentei disfarçar pedalando em pé, mas lá do fundo da sala o Pedrão mandava eu sentar, agora, além de gordo todo mundo ia pensar que eu não sabia andar de bicicleta, os minutos não passavam e confesso que por uma ou duas vezes me imaginei pedalando pra fora dali e só parando na Venezuela. Quando finalmente sai daquela merda, nem conseguia andar, parecia que tinha vindo a cavalo para a academia, Pedrão me colocou deitado em um daqueles aparelhos de tortura medieval e falou bem alto que iria colocar o peso na medida que eu agüentasse, meu orgulho não me permitia pegar menos de trezentos quilos na primeira vez e só parei quando percebi que meus ossos dos braços começavam a estalar. Não consegui completar a primeira serie das três que ele havia passado, mas juro que tentei, quando finalmente alguns dos outros alunos correram para me socorrer após um pequeno acidente ( no qual fiquei esmagado entre a barra e o assento ) me dei conta que era hora de dar um tempo. Levantei e tive a curiosa sensação que não tinha braços mas isso não durou por muito tempo logo pude perceber que eles estavam lá e o pior doendo muito, não doía apenas os braços e por alguma razão não conseguia respirar direito também, achei que tinha quebrado algumas costelas, mas pelo que já ouvi dizer uma ou duas costelas quebradas com total certeza doía menos! Passei o resto do tempo fingindo que estava bebendo água e mantendo assim uma respeitosa distancia daqueles aparelhos infernais.

Quando Pedrão chegou perto, eu não conseguia mais me mexer, fingindo uma naturalidade e até um certo charme repousei meu corpo contra a parede fazendo um tipo: “estou olhando as mulheres”, na verdade aquela parede era meu único suporte de sustentação e se ela não estivesse ali, acho que não sei o que teria sido de mim. Eu não sei por que, alguém já notou que professor de academia ta sempre feliz? Sempre com aquele ar do tipo vamos apostar corrida? Só sei que ele chegou dizendo que era hora de subir no ringue, se eu não tivesse praticamente em coma, eu teria mergulhado pela janela e caído la em baixo fugindo sem olhar pra trás.

O professor de boxe, já me esperava com um par de luvas e ao lado dele tinha um sujeito duas vezes meu tamanho também de luva, após um rápido calculo mental, (ele de luvas mais eu de luvas igual : meu massacre), quis inventar um compromisso e comecei a buscar uma rota de fuga, uma janela, um ralo, uma porta...mas não teve jeito Pedrão com sua simpatia arrastou meu corpo já quebrado até aquele pelotão de fuzilamento, ainda bem que nenhum dos dois esticou a mão para eu apertar, um porque estava de luvas e o outro porque era mal educado mesmo, pois meus braços não tinham forças para levantar minha mão e muito menos para apertar.

- Não precisa se preocupar, hoje só vai ser demonstração! disse o professor de Boxe, enquanto colocava as luvas em mim, o meu “oponente” já estava no rinque se aquecendo e fazendo aquele monte de coisa que eles fazem antes de uma luta. Eu lembro de ter pensado se o outro sabia disso.
Subi no ringue e meu extinto de preservação já estava dobrando a esquina muito decepcionado comigo, cheguei mais perto toquei na luva dele, ( isso é um cumprimento de “lutadores” e não um pedido de misericórdia) , e nesse momento me dei conta que só poderia haver demonstração se tivessem dois lutadores, achei aquilo estranho mas acabei me convencendo que tudo aquilo era pra mim, um incentivo, uma forma de me animar, de trazer mais adeptos para o mundo do pugilismo, enfim, uma dessas coisas bacanas que o esporte faz, essa inclusão, aquela coisa do tipo agora vou fazer parte do grupo, e por ai vai...

Fiquei parado no meio do ringue, afinal, queria ver a apresentação, ela era pra mim! olhei fixamente para o rapaz que pulava na minha frente me encarando, busquei observar cada passo, cada jogada, quando de repente tomei o primeiro soco, que fez minha cabeça bater nas minhas costas, quando olhei para o professor para perguntar o que era aquilo, tomei outro, abri minha boca para falar com o rapaz mas tomei outro, busquei por Pedrão como forma de me salvar, e tomei outro, olhei de novo para o professor e tomei outro, olhei para ver se tinha mais alguém vendo aquela humilhação e tomei outro, procurei uma forma de sair do ringue mas tomei outro, cheguei perto das cordas e tomei outro, levantei uma das cordas e tomei outro, botei o pé para fora do ringue e tomei outro, botei o outro pé e tomei outro e assim sai do ringue, mas juro que busquei fazer isso com muito estilo, e naturalidade, não queria que alguma mulher pensasse que eu não soubesse o que estava fazendo, o professor todo contente disse que tinha ido muito bem! Muito bem em que?? Em apanhar ? em parecer uma boneca de pano de tanta porrada na minha cara? Muito bem em que?? Nunca soube, porque no minuto que ele tirou as minhas luvas peguei minhas coisas (sempre muito natural e o mais cheio de charme que a minha condição permita), e fui embora sem olhar pra trás, eu juro que tentei, eu juro.