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7 de agosto de 2009

Um Banco de Ônibus



Pôr incrível que pareça não ando tanto de ônibus quanto quem me conhece pensa. E ao contrário da grande maioria não acho tão ruim assim usar desse serviço de utilidade publica, eu sei que andar de carro ou moto é muito melhor! Mas meu problema são aquelas pessoas que fazem questão de criticar não apenas os ônibus como quem anda neles, você já reparou que tem gente que prefere voltar pra casa em cima de um dragão de Komodo a pegar um ônibus? E que basta uma carona dentro de qualquer corcel setenta e dois para achar que você que veio de buzão não vale nada? Qual o problema de andar nesse transporte coletivo tão legal?? Onde mais você vai viajar em pé a mais de dois metros do asfalto a oitenta por hora? Nem super-homem faz isso! E se fizer vai fazer uma merda tão grande que ele vai passar uns bons vinte anos em uma cela de kriptonita.

Se você costuma andar nessas baleias do transito e nunca prestou atenção em como um passeio pode ser construtivo está perdendo uma oportunidade sem igual! Eu mesmo não havia me dado conta disso até bem pouco tempo atras e somente pela minha insistência em tentar observar tudo o que me acontece é que pude reparar como andar de ônibus pode também ser construtivo, emocionante e até filosófico.

Costumo pegar um ônibus que faz a linha Vila Valqueire (bairro metido a besta, da zona norte do Rio), Pça XV (lugar metido a besta, no centro do Rio), esse ônibus é o meio mais rápido entre dois lugares metidos a besta, existe um outro que faz a mesma linha, mas ele dá tanta volta que deveria vir escrito na frente “ via Austrália” por isso optei pelo menos complicado.

Sou um sujeito de manias e por isso mesmo costumo sentar sempre no mesmo banco (aquele logo atrás do motorista) isso me dá uma visão mais ampla da rua ( não sei explicar pra quê quero Ter uma visão mais ampla da rua); nessa linha não tem trocador ( cobrador, em alguns estados mais problemáticos), o que deixa o motorista com a função de dirigir, prestar atenção no transito e na loira gostosa, e ainda por cima receber e dar troco, enfim, uma grande sacada das empresas para nossa segurança e para as familias dos trocadores.

Um dia desses voltando pra casa, decidi que prestaria atenção no motorista e não na rua ( abrindo mão de toda aquela visão ampla), subi e fui para “meu lugar” sentei, o ônibus saiu, e lá fomos nós, logo no primeiro ponto um senhor faz sinal, e ele para;
(velhinho) – Por favor, aceita Rio card? ( cartão de passagem )
(motorista)- Como assim??
(velhinho) – Aquele cartãozinho que a gente usa pra pagar!
(motorista) – Vai subir ou não vovô ?
(velhinho) – Eu vou! Mas antes quero saber... VRUMM !!! o ônibus arrancou deixando o vovô parado no meio do ponto cheio de duvidas, eu achei aquilo sacanagem mas fiquei quieto, afinal, eu estava ali de observador e não queria interferir nos acontecimentos.

Logo na próxima parada entra uma senhora carregando uma caixinha daquelas de transportar animais com um gato que berrava, ela chegou explicando que o bichano não estava acostumado a sair de casa e que para ele aquela experiência estava sendo muito “ stressante”, o motorista olhou para o outro lado como quem quer dizer: não tô nem ai, ela passou e sentou no meio do ônibus, e lá fomos nós eu, o motorista, a senhora e o bichano.

Na terceira parada entra um casal que pensava que ficar se beijando enquanto passavam pela roleta era gostoso, e por isso mesmo resolveram tentar, eu olhei para o motorista que olhava para a bunda da garota que olhava para o bichano.

Lá foi aquele monstro das ruas acelerando e cortando os carros e eu ali atrás prestando a maior atenção na perícia daquele simpático condutor pelo meio dos carros no centro do Rio, logo em seguida sobe um homem de terno que puxa uma nota de cinquênta reais, o motorista faz cara de quem acabou de ver um t-rex solto vindo na direção dele, e reclamou dizendo que o troco máximo é de vinte reais e que se ele queria andar de ônibus que trocasse o dinheiro, o Homem com muita paciência explica que só tinha aquilo, o motorista faz cara de quem não está gostando e diz que ele não poderia garantir nada, o homem finalmente passa e a viagem prossegue.

A cada ponto subia alguém, algumas pessoas passavam pela roleta e nem eram notadas pelo motorista e outras notadas até demais ( caso de uma loira), e fiquei pensando e notei que aquele ônibus era muito parecido com a minha vida, que segue seu caminho e no decorrer dele entram pessoas que eu nem noto saem pessoas que enquanto estiveram lá, foram importantes, que tem gente que nem consegue entrar, que outras entram trazendo coisas demais e algumas de menos e outras que não entram sozinhas, e que muitas das vezes também me sinto preso com medo do desconhecido. O motorista bem que poderia ser eu, conduzindo minha vida, deixando algumas pessoas nos locais certos e outras nos errados, lá fora a vida passando a oitenta por hora mas aqui dentro, no seu próprio ritimo. Uma hora a viagem vai acabar, chegará minha vez de sair desse ônibus que continuará seu caminho sem mim, vou deixar o banco vazio, mas tenho certeza que outro sentará em meu lugar.